Suicídio e TDAH: hora de falarmos seriamente sobre os riscos
Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade é o transtorno mais diagnosticado em crianças com menos de 12 anos que cometem suicídio, concluiu uma recente pesquisa.1
Poucas crianças com idade entre cinco e onze anos tentaram tirar suas próprias vidas, então, há poucos estudos sobre esta faixa etária. A pesquisa, publicada na revista Pediatrics, tentou investigar este grupo, comparando-o aos índices de suicídio na pré-adolescência.
Para tanto, foram analisadas mortes em 17 estados norte-americanos, de 2003 a 2012. Os pesquisadores compararam 87 crianças entre 5 e 11 anos com 606 pré-adolescentes entre 12 e 14 anos.
Cerca de um terço dos indivíduos em cada grupo possuíam um distúrbio mental conhecido. As crianças tinham mais propensão a ter diagnóstico de TDAH, acompanhado ou não de hiperatividade. Diferentemente, quase dois terços dos adolescentes que tiraram suas vidas lutavam contra depressão e distimia.
“A principal mensagem do estudo é que as circunstâncias que precedem o suicídio em crianças são, em termos gerais, similares às vividas por pré-adolescentes, com algumas exceções que recaem sobre questões de desenvolvimento”, disse a autora do estudo, Arielle H. Sheftall, Ph.D, do Nationwide Children’s Hospital, em Columbus, no estado de Ohio.2
“Por exemplo, crianças que morreram por suicídio tinham mais problemas com familiares e amigos e, aquelas que tinham desordens mentais, eram mais frequentemente diagnosticadas com TDAH. Por outro lado, os adolescentes que cometeram suicídio tinham mais problemas com namorados ou namoradas e eram mais diagnosticados com depressão ou distimia”, acrescentou Sheftall.
Os pesquisadores do estudo dizem que ainda é preciso estabelecer uma relação entre TDAH como uma causa para suicídio em crianças. Jeffrey Bridge, que participou do estudo, é um epidemiologista do Nationwide Children’s Hospital em Columbus. Segundo Bridge, a pesquisa pode sugerir apenas que a impulsividade do TDAH talvez esteja ligada à impulsividade necessária para tirar a própria vida.3
Outros especialistas pedem cautela ao observar os resultados de uma pesquisa conduzida em uma população tão pequena (quase 700 crianças).
O Dr. David N. Miller, presidente da American Association of Suicidology, elogiou o estudo por analisar um grupo tão pouco investigado. Mas, questionou se a impulsividade é mesmo um fator importante no suicídio: “há evidências que apontam na direção contrária”, ele disse.
O que podemos fazer para evitar este desfecho?
Podemos perceber que quase 30% das 693 crianças e jovens neste estudo disseram ter alertado alguém sobre suas intenções suicidas.
Isso é de extrema importância para os pais e professores, que devem sim levar a sério o que a criança diz sobre a questão, independentemente da idade.
“Sabemos que crianças não necessariamente demonstram que são suicidas”, explicou Dr. Miller. “Mas, elas demonstrarão se perguntarmos a elas.” Dr. Bridge também alerta pais, professores e profissionais de saúde, que “precisam estar cientes que, apesar do suicídio infantil ser algo raro, crianças podem pensar sobre suicídio e até tentar cometer suicídio”.
É importante perguntar diretamente à criança sobre seus pensamentos, se você estiver preocupado. Os pais precisam conhecer os sinais de alerta. Dr. Bridge nos ensina sobre os principais sinais:
– frases que manifestem desejo de morte;
– tristeza por períodos longos;
– afastamento repentino de familiares e amigos;
– irritação e agressividade crescentes e constantes.
Se estes sinais estiverem presentes, diz Dr. Bridge, os pais devem ficar alertas e levar a criança para ver um profissional de saúde mental.
Considere outros dados sobre o TDAH na infância e o impacto do transtorno nos índices de suicídio na vida adulta. Pesquisas anteriores apontam os seguintes números:4
– 8% dos adultos que foram diagnosticados com TDAH na infância cometeram suicídio. Para adultos sem o transtorno, a taxa ficou em 1%.5
– 16% dos adultos com TDAH na maturidade tentaram cometer suicídio. Enquanto o TDAH sozinho não foi considerado um forte fator preditivo para o suicídio, desordens comórbidas, que acontecem simultaneamente, aumentam os riscos em quatro ou 12 vezes.6
FONTES
1 SHEFTALL A et al., 2016. Suicide in elementary school-aged children and early adolescents. Pediatrics. Pediatrics Oct 2016, 138 (4) e20160436; DOI: 10.1542/peds.2016-0436. Disponível em: http://pediatrics.aappublications.org/content/138/4/e20160436 . Acesso em: 28 de setembro de 2018.
2 ADHD More Common Than Depression in Child Suicide. MEDSCAPE. Disponível em: https://www.medscape.com/viewarticle/869027 . Acesso em: 28 de setembro de 2018.
3 MORE CHILD SUICIDES ARE LINKED TO A.D.D. THAN DEPRESSION, STUDY SUGGESTS. THE NEW YORK TIMES. Disponível em: https://www.nytimes.com/2016/09/19/science/more-child-suicides-are-linked-to-add-than-depression-study-suggests.html . Acesso em: 28 de setembro de 2018.
4 OTHER DATA. NATIONAL RESOURCE CENTER ON ADHD (CHADD). Disponível em: http://www.chadd.org/understanding-adhd/about-adhd/data-and-statistics/other-data.aspx . Acesso em: 28 de setembro de 2018.
5 BARBARESI W et al., 2013. Mortality, ADHD, and Psychosocial Adversity in Adults With Childhood ADHD: A Prospective Study. Pediatrics. 2013 Apr; 131(4): 637–644. doi: 10.1542/peds.2012-2354. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3821174/ . Acesso em: 28 de setembro de 2018.
6 AGOSTI V et al., 2013. Does Attention Deficit Hyperactivity Disorder increase the risk of suicide attempts? J Affect Disord. Published in final edited form as: J Affect Disord. 2011 Oct; 133(3): 595–599. doi: 10.1016/j.jad.2011.05.008. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3163009/ . Acesso em: 28 de setembro de 2018.